Roberto cresceu ouvindo o pai, polonês convicto, que homem que é homem não dá muita bola para coisas femininas. Logo cedo ouviu um "ela não serve pra você" e a partir da primeira desilusão amorosa aprendeu a selecionar até as paixões platônicas. Gostava dos amores sofridos e calados. E quando sofria, ninguém sabia.
Até que conheceu Ana Júlia. O tipo de mulher que ele nunca se interessaria. Não tinha os moldes que ele acreditava que deveria ser uma mulher para chamar de sua. Mas que raio de olhar era aquele que Ana Júlia tinha? Um sorriso que todos ao redor eram contagiados, inclusive Robertinho, que obviamente não aceitava que Jú lhe causava todo este torpor. E cada vez que ele sacudia a cabeça e falava que não pensaria mais naquela mulher, ela dava um jeito de ser mais necessária para ele, todo dia. Tão diferentes e tão iguais. Ela conseguia ter milhares de defeitos e todas qualidades possíveis. Só ela tinha tantos tipos de sorrisos quando ele se deliciava em desvendá-los.
Roberto se rendeu, mas deixou umas reservas e um afastamento necessário para sua sobrevivência, afinal seu lema era: Eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim. E quando ele tinha certeza que estava blindado, uma fortaleza, Ana Júlia dava uma gargalhada que virava um som de porquinho que a deixava tão linda e irresistível.
O maior defeito de Ana Júlia era a ansiedade, ela estava num momento da vida que o sonho de casar e ter filhos estava aflorado. E Roberto não aceitaria o fato da ideia ter partido dela. Ela cobrava atenção, e ele pensava que da maneira que estava já estava de bom tamanho. Ana Júlia era antenada, vivia na internet e aderiu ao mundo hitech e queria que Roberto pensasse da mesma forma. Roberto, impávido colosso não só continuou na dele como não alimentava a manifestações públicas de amor que Ana tanto queria.
"Meu amor eu coloquei uma foto nossa e você nem curtiu!" Se lamentava Ana, enquanto Roberto pensava em algo melhor pra fazer, seu videogame por exemplo. Mas seguiam os dois, como Eduardo e Mônica, como Lampião e Maria Bonita...o diferente que se completava.
Até que Ana foi embora para Polônia. Que ironia. Ela tão sentimental, voando com seu sorriso, seus olhos e seu jeitinho de amar, para um lugar tão frio e calculista. Ela se foi porque queria mais, queria tudo e Roberto... ah, Roberto passou dias na certeza de que foi o melhor. "Ela não servia mesmo pra mim." Mas que dor era aquela que fez Roberto, o implacável, chorar e chorar e querer tudo de volta?
A dor passou (ela sempre passa), e Roberto hoje curte tudo, curte e compartilha. Aderiu totalmente a esta geração moderninha e cheia de contatos. E até isso faz lembrar Ana Júlia...às vezes pensa que poderia ter cedido antes. Cedido a tudo! Mas não, tudo está no lugar e assim permanecerá. Ana Júlia hoje é apenas uma foto com um olhar meio vazio (ele interpretou bem?) onde ele tem ímpetos de curtir. Antes tarde do que nunca.